A lua de Saturno Encélado pode suportar vida? Pesquisadores discutem essa hipótese
Pensa-se que a lua gelada de Saturno, Encélado, acolha um oceano líquido sob a superfície congelada que poderia ser favorável à vida. Créditos: NASA |
Embora Encélado seja pequeno em tamanho e envolto em uma casca grossa de gelo, parece ser um mundo habitável: ele tem uma fonte de energia de atrito criado por sua órbita ao redor de Saturno, compostos orgânicos que são blocos para a construção da vida e a água líquida do oceano debaixo de todo aquele gelo. Mas só por Encélado parecer hospitaleiro para a vida não quer dizer que a vida exista lá; vai exigir muito mais trabalho para provar isso definitivamente. Na reunião em Berkeley, cientistas definiram os dados que a Cassini recolheu de Encélado - eles discutiram análises de seus gêiseres, medições do seu escudo de gelo, ideias de como seria a química do oceano, entre outras coisas. No entanto, mesmo com todos os novos dados que os cientistas detém, eles não estão nem perto de detectar organismos em Encélado - daí a necessidade de uma missão espacial.
Encontrar vida seria uma profunda revelação de que não estamos sozinhos no Cosmos. Além disso, a descoberta de organismos - ou a falta dela - poderia responder o mistério mais sutil de como a vida começou na Terra. Pesquisadores da reunião apresentaram duas principais teorias opostas sobre como a vida se originou aqui (no oceano versus na terra), e o grupo discutiu sobre como explorar Encélado iria acrescentar nesse debate. "Seria um teste sobre uma das ideias sobre a origem da vida", Porco diz - especificamente, a proposição de que as espécies da Terra surgiram no mar. Por exemplo, se existir organismos no oceano de Encélado e que presumivelmente surgiram lá, isso iria apontar de que a vida surgiu na Terra em fontes hidrotermais (quente, rica em nutrientes, profundas no fundo do oceano) e não em porções de água sobre a terra.
Encélado também poderia nos ensinar sobre a gênese do nosso Sistema Solar em outras maneiras críticas. "Você não está apenas a procura de vida, você está a procura de uma compreensão da natureza da vida, e como ela se compara à vida na Terra", diz Chris McKay, cientista planetário do Ames Research Center da NASA. Por exemplo, se nós descobrirmos que as criaturas em Encélado não são como as da Terra - se sua bioquímica for completamente diferente - em seguida, isso provavelmente significaria que as duas formas de vida surgiram separadamente e de forma independente, e, portanto, que os alienígenas provavelmente existam também em outros lugares. "Se a vida começou pelo menos duas vezes em nosso Sistema Solar, então você sabe que o Universo é cheio de vida", diz McKay. Ou, se nós descobrirmos que os organismos de Encélado e os organismos da Terra são feitos de forma idêntica, isso pode indicar que a vida se originou em outro lugar, e foi levada para ambos os mundos. Se Encélado for estéril, no entanto, poderia apoiar a teoria de que a vida se originou em outro lugar, e foi levada para ambos os mundos. Se Encélado for estéril, no entanto, poderia apoiar a ideia de que a vida precisa de um ambiente de terra seca para começar, não um oceano. Independentemente do que uma missão a Encélado descubra, a resposta vai nos dizer algo fascinante.
Procurando nos gêiseres
Encélado tem mais de 90 gêiseres que expelem colunas de vapor de água salgada, compostos orgânicos e partículas de gelo do oceano subterrâneo. Eles apresentam uma grande oportunidade para uma nave espacial visitante, que não teria que pousar para procurar vida (o que é muito mais difícil e caro), mas poderia simplesmente voar através dos gêiseres para capturar amostras. "A pluma está vindo direto do oceano", McKay, explica: "Então porque nós iríamos querer aterrissar? Podemos obter o material mais fresco, vindo direto da fonte". No entanto, mesmo se existir vida em Encélado, ela pode ou não aparecer em amostras da pluma. Se o oceano pelágico na Terra (ou seja, a água aberta longe da costa ou fundo do mar) for um análogo do oceano de Encélado, seria muito difícil até mesmo encontrar um organismo", diz Porco. Os cientistas teriam de testar uma quantidade ridiculamente grande de água, a fim de identificar todos os organismos.
Felizmente, há alguns meses, um microbiologista disse a Porco sobre uma pesquisa científica de décadas atrás que a fez otimista sobre encontrar vida nas plumas. Na reunião de Berkeley, ela descreveu uma pesquisa em um processo chamado de "bolha de esfregação", que ocorre nos oceanos da Terra - e que poderia fazer uma grande diferença nos gêiseres de Encélado. Acontece que, sempre que as bolhas sobem através da água, ela se esfregam na coluna de água de modo que os organismos e matérias orgânicas tornam-se concentrados na superfície. E quando as bolhas estouram (como em jatos dos oceano ou em jatos de Encélado), eles ejetam esses micróbios junto. Portanto, se existir vida em Encélado, suas plumas podem conter uma concentração muito maior de organismos do que o resto do seu oceano - tudo graças às bolhas. "Mesmo se o oceano em Encélado for microbiologicamente pobre como o oceano pelágico na Terra, que é o pior caso, ainda temos a chance de ver um monte de organismos nas plumas", diz Porco. Ainda assim, esse cenário apresenta imediatamente uma outra questão: uma nave espacial deve encontrar uma maneira de capturar uma amostra sem danificar os organismos delicados quando passar a altas velocidades através dos jatos.
Buscando sinais de vida
Uma vez que uma nave espacial recolha uma amostra de Encélado, como é o que os cientistas vão testar se ela possui vida? O processo é mais complexo do que simplesmente procurar algo que está vivo - afinal, os cientistas tem discutido sobre a definição de vida por anos. No caso da caça de extraterrestres, os cientistas precisam ser criativos. "Se você for para Marte e encontrar um coelho morto no chão, ele não está vivo, mas é uma prova de vida", diz McKay. "Portanto, não estamos à procura de algo que está vivo, mas em busca de moléculas que a vida usa. Em outras palavras, nós estamos procurando pelo corpo do coelho morto."
As moléculas que McKay e outros cientistas consideram mais importantes são os aminoácidos - os blocos de construção das proteínas. "Eles ocorrem em cometas e meteoritos, por isso, se há uma sopa primordial em Encélado, ela deve ter aminoácidos", diz McKay. Eles são tão incrivelmente úteis e tão bons na água que a vida seria muito trouxa ao não usá-los". Em um ponto na reunião de Berkeley, no entanto, Porco chamou a atenção para um ponto crítico: e se os organismos de Encélado não forem feitos de aminoácidos? McKay respondeu, em tom de brincadeira: "Então, nós estamos ferrados e a natureza é perversa. Todos nós deveríamos simplesmente desistir e nos tornar poetas". O que ele quis dizer é que há um grande consenso na comunidade científica de que os aminoácidos serão úteis na caça á vida - e se tal pensamento estiver errado, bem "então somos mais trouxas do que acostumávamos ser", disse McKay.
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Outra assinatura importante que os cientistas querem detectar é a dos lipídios, que as células usam para construir suas paredes externas. "É uma história similar a dos aminoácidos", explica Alfonso Dávila, cientista da pesquisa no Instituto SETI e Ames. "É algo que se espera estar presente na origem da vida é que o se esperaria que as células usassem". Os cientistas precisa fazer mais do que simplesmente detectar aminoácidos e proteínas em Encélado - ambas as moléculas existem sozinhas em muitos ambientes, com ou sem vida. Mas os astrobiólogos podem direcionar estruturas distintas e distribuições de aminoácidos e lípidos que eles acham que são únicos para a vida. "Estamos à procura de moléculas e estruturas que a vida faz, que são diferentes da confusão aleatória que a química faz", observa McKay.
Algumas outras possibilidades na lista de pesquisa são grandes compostos orgânicos, bem como fotos de organismos reais obtidas pela sonda a partir de amostras da pluma. Isso pode ser, por exemplo, imagens de um organismo andando ou comendo. Tal achado pode ser a evidências mais direta de algo "vivo", mas muitos pesquisadores têm muitas dúvidas quanto à possibilidade das imagens de organismos, diz Dávila. "É uma daquelas experiência de alto risco e de alta recompensa. A possibilidade de um resultado negativo é muito alto", acrescenta. "É muito difícil dizer a diferença entre uma célula e um ponto que é apenas uma partícula." Esta questão foi muito debatida na reunião, mas alguns cientistas parecem mais esperançosos. Eles discutiram novas técnicas que irão explorar de forma confiável as imagens dos micróbios de Encélado (se existirem).
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Em última análise, os cientistas pensam que provavelmente irão precisar de uma combinação de provas para mostrar que realmente encontraram vida. E, evidentemente, o custo e a tecnologia irão restringir as experiências que serão capazes de realizar. A caça será extremamente complicada, especialmente considerando que os organismos em Encélado não parecerão ou agirão como os organismos aqui da Terra. "Estamos caminhando sobre uma corda fina entre o que sabemos com base na vida da Terra e o que esperamos que a vida seja", diz Dávila. "É uma das coisas que nos impede de chegar com uma boa estratégia." Ou, para reiterar a observação de Porco - "É um problema desgraçado para resolver".
Fonte: Universo Racionalista
As moléculas que McKay e outros cientistas consideram mais importantes são os aminoácidos - os blocos de construção das proteínas. "Eles ocorrem em cometas e meteoritos, por isso, se há uma sopa primordial em Encélado, ela deve ter aminoácidos", diz McKay. Eles são tão incrivelmente úteis e tão bons na água que a vida seria muito trouxa ao não usá-los". Em um ponto na reunião de Berkeley, no entanto, Porco chamou a atenção para um ponto crítico: e se os organismos de Encélado não forem feitos de aminoácidos? McKay respondeu, em tom de brincadeira: "Então, nós estamos ferrados e a natureza é perversa. Todos nós deveríamos simplesmente desistir e nos tornar poetas". O que ele quis dizer é que há um grande consenso na comunidade científica de que os aminoácidos serão úteis na caça á vida - e se tal pensamento estiver errado, bem "então somos mais trouxas do que acostumávamos ser", disse McKay.
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Outra assinatura importante que os cientistas querem detectar é a dos lipídios, que as células usam para construir suas paredes externas. "É uma história similar a dos aminoácidos", explica Alfonso Dávila, cientista da pesquisa no Instituto SETI e Ames. "É algo que se espera estar presente na origem da vida é que o se esperaria que as células usassem". Os cientistas precisa fazer mais do que simplesmente detectar aminoácidos e proteínas em Encélado - ambas as moléculas existem sozinhas em muitos ambientes, com ou sem vida. Mas os astrobiólogos podem direcionar estruturas distintas e distribuições de aminoácidos e lípidos que eles acham que são únicos para a vida. "Estamos à procura de moléculas e estruturas que a vida faz, que são diferentes da confusão aleatória que a química faz", observa McKay.
Algumas outras possibilidades na lista de pesquisa são grandes compostos orgânicos, bem como fotos de organismos reais obtidas pela sonda a partir de amostras da pluma. Isso pode ser, por exemplo, imagens de um organismo andando ou comendo. Tal achado pode ser a evidências mais direta de algo "vivo", mas muitos pesquisadores têm muitas dúvidas quanto à possibilidade das imagens de organismos, diz Dávila. "É uma daquelas experiência de alto risco e de alta recompensa. A possibilidade de um resultado negativo é muito alto", acrescenta. "É muito difícil dizer a diferença entre uma célula e um ponto que é apenas uma partícula." Esta questão foi muito debatida na reunião, mas alguns cientistas parecem mais esperançosos. Eles discutiram novas técnicas que irão explorar de forma confiável as imagens dos micróbios de Encélado (se existirem).
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Em última análise, os cientistas pensam que provavelmente irão precisar de uma combinação de provas para mostrar que realmente encontraram vida. E, evidentemente, o custo e a tecnologia irão restringir as experiências que serão capazes de realizar. A caça será extremamente complicada, especialmente considerando que os organismos em Encélado não parecerão ou agirão como os organismos aqui da Terra. "Estamos caminhando sobre uma corda fina entre o que sabemos com base na vida da Terra e o que esperamos que a vida seja", diz Dávila. "É uma das coisas que nos impede de chegar com uma boa estratégia." Ou, para reiterar a observação de Porco - "É um problema desgraçado para resolver".
Fonte: Universo Racionalista
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