O asteroide que extinguiu os dinossauros pode ter desencadeado erupções vulcânicas catastróficas
Um estudo publicado na revista Scince tenta encerrar o impasse sobre o evento que teria dizimado os dinossauros. Durante anos, cientistas debateram se a devastação tinha vindo das lavas dos vulcões ou do impacto de um asteroide na península de Yucatán, no México, 66 milhões de anos atrás. Segundo os autores da nova pesquisa, ambos os eventos contribuíram para a extinção em massa. O asteroide que se chocou contra a Terra desencadeou uma nova série de erupções vulcânicas, bombeando poeira e gases nocivos que dizimaram 70% das espécies do planeta.
Professor do Centro de Geocronologia da Universidade da Califórnia em Berkeley, Paul Renne estudou os depósitos de lava basáltica do vulcão Decan Trapps, no centro-oeste da Índia. O pesquisador mediu as camadas de lava solidificada e percebeu que a quantidade de erupções foi intensificada poucos milhares de anos após a colisão do asteroide. De acordo com seu levantamento, é improvável que trate-se apenas de uma coincidência.
"Os vulcões, sozinhos, não teriam condições de extinguir todos os dinossauros" - assinala - "Eles já haviam provocado a erradicação de diversas espécies em outra era geológica, mas, desta vez, precisaram do apoio dos asteroides. Mas também não é possível saber o quanto cada uma dessas forças contribuiu para a extinção dos dinossauros, tampouco o período que demorou para eles sumirem. Não foi um dia só. Pode ter demorado milhares de anos."
Para Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional, um dos principais méritos do estudo é aperfeiçoar a datação das camadas de lava - já se sabe que as inferiores são mais antigas que as superiores, mas havia pouca precisão sobre quais períodos elas correspondiam. Outras questões, no entanto, permanecem sem resposta. A principal é estabelecer como um asteroide que colidiu no atual México teria relação com vulcões onde hoje está localizada a Índia. Por isso, Kellner acredita que o impasse continua.
"É fato que a explosão vulcânica praticamente dobrou. O problema é vincular esse aumento com o impacto do corpo celeste" - assinala - "Não acredito que já chegamos à uma conclusão definitiva de que estes fenômenos estão relacionados."
O asteroide que se chocou contra a Terra tinha provavelmente mais de 10 quilômetros de diâmetro e liberou mais energia do que um bilhão de bombas atômicas. Sua colisão resultou em uma cratera de mais de 180 quilômetros de largura e poderia ter provocado terremotos de magnitude 8,9 e 10 na escala Richter - maiores do que aqueles que arrasaram o Japão em 2011. Já a lava expelida pelo Deccan Traps teria cerca de 500 mil quilômetros cúbicos, o suficiente para cobrir o mundo inteiro com uma camada de 1 metro de altura.
"A biodiversidade e a composição química do oceano levaram cerca de 500 mil anos para realmente se recuperarem, o tempo de duração do vulcanismo" - conta Renne. "Se os dinossauros tivessem sobrevivido, não conseguiriam se adaptar ao novo ecossistema, onde precisariam competir por recursos com os mamíferos."
Até o fim dos anos 1970, não havia uma teoria sólida sobre o que teria provocado a extinção dos dinossauros. A tese do asteroide nasceu na década seguinte, quando o físico Luis Alvarez, e seu filho, o geólogo Walter Alvarez, encontraram na península de Yucatán quantidades anormais do material irídio, que é raro na Terra, mas muito comuns em objetos extraterrestres. Veio daí a hipótese de que um corpo celeste teria causado um impacto gigante na região, suficiente pra devastar os grandes répteis. No entanto, a teoria do vulcanismo não foi descartada, já que as erupções, mesmo em menor intensidade, estavam em curso.
Coautor do estudo e professor do Departamento de Ciências da Terra da Universidade da Califórnia em Berkeley, Mark Richards admite que o novo levantamento pode não convencer toda a comunidade científica sobre a aliança entre asteroide e vulcões na extinção dos dinossauros. No entanto, uma inovação da equipe pode pautar a continuação do debate:
"Se nossas datas de alta precisão relatarem cada vez mais estes três eventos, o impacto do asteroide, a extinção dos dinossauros, e o pulso eruptivo, as pessoas terão que aceitar a possibilidade de que há uma conexão entre eles. Estamos conciliando um cenário que parecia inimaginável."
Fonte: O Globo
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